Os Melhores Filmes de 2015

Chega final de ano, e, junto a vontade de listar os melhores acontecimentos do ano, de lhes fazer justiça pela memória. Nesse caso, relembro os melhores filmes de 2015 que vi (a lista a seguir conta tanto com filmes lançados aqui esse ano, como com aqueles lançados por enquanto lá fora apenas):

1 – Vício Inerente, de Paul Thomas Anderson

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Meu filme mais esperado – e o que mais ofereceu recompensas a espera. É desses filmes que respiram o seu próprio ar, desfilam pela tela sem se importar em se fazer entender pela lógica comum, mas antes abraça aqueles que esperam pura e simplesmente se deixar levar pelas sensações que o filme evoca. Maravilhoso! (falei um pouco mais dele aqui).

2 – A Assassina, de Hou Hsiao-Hsien

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Talvez o filme mais misterioso dentre os dessa lista. A Assassina tem a capacidade rara de levar o espectador a uma época e tempo diferentes, remotos, e fazê-lo experienciar a sensação de que realmente está diante de algo inacessível… e ainda assim deixa-nos intrigados pela sua beleza de tirar o fôlego. Não é um filme para quem busca uma história fácil de seguir, mas para aqueles que não temem ser confrontados pelo o que desconhecem.

3 – Mad Max: Estrada da Fúria, de George Miller

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Muito se falou desse filme esse ano que é difícil não soar repetitivo. Sim, é um dos melhores filmes de ação já feitos; Charlize Theron arrebenta como a Imperatriz Furiosa; ao confiar mais em efeitos práticos, ao vermos aqueles carros capotando e explodindo e sabendo que aquilo tudo foi mesmo feito, o filme ganha muito mais credibilidade; ver a doideira de todas aquelas pessoas e ainda conseguir entendê-las, ver que há uma conexão ente o mundo doido de Max e o nosso tanto nos traz um sorriso pelo reconhecimento quanto nos espanta, pelo mesmo motivo. Mas o que mais me atraiu ao filme foi essa qualidade de quase filme mudo, em que a ação, os acontecimentos seguem sem que se precise explicar o que acontece, deixando que o nosso entendimento surja pelo poder das imagens.

4 – Anomalisa, de Duke Johnson e Charlie Kaufman

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“O filme mais humano do ano sem nenhum humano em tela”, assim tem sido exaltado o filme lá fora. E realmente, a mente por trás de genialidades como Quero Ser John Malkovich, Adaptção, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças etc nos entrega aqui uma reflexão altamente melancólica sobre o que é viver em depressão, sem interesse para nada ou ninguém, encontrando momentaneamente o brilho que o poderia salvar da escuridão aterradora, apenas para vê-lo ir embora para o mesmo lugar misterioso de onde veio…

5 – Brooklyn, de John Crowley

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Uma atuação iluminada de Saoirse Ronan interpretando uma moça irlandesa que deixa atrás mãe e irmã em busca de uma oportunidade melhor de vida na América. Lá ela encontra o amor, mas quando o passado a chama de volta, ela precisa decidir por conta própria o destino de sua vida. Um filme que flui com elegância e graça, e nos faz identificar com essa personagem tão quieta e amável com um coração genuíno.

6 – O Fim da Turnê, de James Ponsoldt

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Outro filme sobre solidão e depressão que, se à primeira vista é leve, descontraído até, é apenas por transcorrer cheio de conversas e encontros. Mas não duvide, lá no fundo ele vai deixar aquele aperto agridoce no seu coração, como só os filmes de coração genuíno conseguem.

7 – Sicario: Terra de Ninguém, de Denis Villeneuve

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Quão longe dentro da escuridão se precisa ir para combatê-la? Sicario responde a essa pergunta devagar, dando tempo para entendermos as feridas dos personagens e suas motivações. Pelo ponto de vista de Kate Macer, em uma brilhante atuação de Emily Blunt, entramos numa complicada investigação sobre os cartéis de droga do méxico, onde nada é o que parece, a linha que separa os lados do bem e do mal está difusa, e, como a protagonista, acompanhamos por boa parte do filme em sincera confusão sobre o que está acontecendo por não ser esse o mundo que habitamos. Quando Macer (e o espectador) finalmente enxerga o quadro maior de tudo pelo o que ela passou, resta-lhe apenas a visão do desespero…

8 – The Lobster, de Yorgos Lanthimos

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Um ácido (e engraçadíssimo) comentário sobre as relações afetivas no século 21, apresentada por meio de uma fábula absurda que, apesar disso, se comunica (demais) com todas as formas como encaramos o amor e a pressão da sociedade sobre ele. Falei um pouco mais aqui.

9 – Phoenix, de Christian Petzold

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Em uma poderosa performance de Nina Hoss, o filme segue a história de uma mulher que retorna dos campos de concentração com a face destruída e, assim, recorre a uma cirurgia para reconstruí-la. Ela não aparenta exatamente como antes, contudo, levando ao seu marido a não reconhecê-la. Mas uma proposta da parte dele abre as portas para que ela tente se aproximar novamente de seu marido. Petzold investiga aqui as faces da identidade em um suspense Hitchcockiano que sustenta até o fim a tensão por não ser reconhecido.

 10 – Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), de Alejandro González Iñárritu

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O filme ganhador do Oscar de 2015 dispensa apresentações. É o filme sobre um ator antes famoso por interpretar um super herói mas agora esquecido, que vê no teatro a chance de se reerguer. Semelhanças com a vida real não são mera coincidência e são parte do charme do filme. O que mais gostei é como o diretor faz conviver ao mesmo tempo a realidade de fato da narrativa com a realidade surreal e subjetiva do protagonista, vivido por Michael Keaton, garantindo umas belas cenas em que o sonho se faz valer tanto ou mais do que a vida real.

11 – O Duque de Burgundy, de Peter Strickland

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Difícil falar sobre esse… É um estudo de rigidez formal sobre como a repetição e suas variações, que não deixam de ser repetições de si mesmas, afetam um relacionamento. Um filme cheio de atmosfera que consegue captar, sutilmente, como o bater de asas de uma borboleta, o aprisionamento do desejo, o clima abafado, mistura de sonho e pesadelo, de um amor que se quer estar e fugir ao mesmo tempo.

12 – Juventude, de Paolo Sorrentino

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Uma celebração da vida, uma reflexão sobre a vida enquanto jovem e enquanto velho, os júbilos e tormentos da criação, as difíceis relações humanas… tudo isso passado com elegância e empatia à nossa frente. Um lindíssimo filme, com excelentes atuações de Michael Caine, Harvey Keitel, Paul Dano, Rachel Weisz e uma aparição rápida mas marcante de Jane Fonda.
13 – Mia Madre, de Nanni Moretti 

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Uma diretora conduz um filme sobre trabalhadores em greve frente às ameaças de demissão por um novo chefe da empresa em que trabalham. Enquanto isso sua mãe está a morrer e ela também é assaltada por memórias do passado. Trata-se de uma delicada história sobre a aceitação da partida daqueles que amamos. Um ponto de genialidade do filme é  como a recusa em se deixar ser demitido ecoa a recusa da protagonista em deixar a mãe ir. Destaque também para a atuação cheia de vida e energia de John Turturro, como o ator chato que não mede esforços para infernizar a vida dos colegas de trabalho.

14 – Chi-Raq, de Spike Lee

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Um filme cheio de energia e vida e humor e violência sobre uma medida intensa liderada pelas mulheres de Chicago (a Chi-Raq do filme) para fazer com que o crime e as matanças entre duas gangues da cidade parem e, assim, trazer paz novamente às vidas dos moradores. O Filme é de uma genialidade ímpar ao fazer uma releitura de A Greve do Sexo (também traduzida como Lisístrata), comédia grega de Aristófanes, trazendo-a para os dias de hoje enquanto mantém referências à mitologia grega e as aproveita para uni-las à cultura do rap, incorporando elementos daquela nesta, enquanto tece diálogos cheios de rima e pompa, ainda sem perder a naturalidade. Tudo envolto em um pacote de imagens absurdas que gritam mensagens de paz do melhor jeito que podem. Uma empreitada mais do que necessária, vital. (Destaque para a participação de Samuel L. Jackson, que visivelmente se entretém demais em fazer as vezes do personagem que olha diretamente para a platéia e lhes explica a história).

15 – Whiplash: Em Busca da Perfeição

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Aquele filme quase perfeito que o envolve nas espirais da loucura do protagonista, um baterista que faz de tudo para conseguir a apreciação do seu mestre e ser o melhor músico que existe. Um filme todo energético que aproveita o delírio do jazz e o traz para a narrativa, envolvendo a audiência até o último minuto. Imperdível!

 

 

Menção honrosa a alguns outros filmes:

“Macbeth”, “Queen of Earth”, “Mistress America”, “Dois Dias, Uma Noite”, “O Ano Mais Violento”, “Timbuktu”, “Divertida Mente”, “Adeus à Linguagem”, “A Colina Escarlate”, “Star Wars: O Despertar da Força”, “Nasty Baby”, “Tangerina”, “Descompensada”, “Boa Noite, Mamãe”, “Corrente do Mal”, “Perdido em Marte”.

E foi isso, espero que esse ano seja ainda melhor. Promessas não são o que faltam: já na porta estão Os Oito Odiados, O Regresso, Carol, Spotlight, Creed, Steve Jobs, Caveleiro de Copas, Hail, Caesar, O Filho de Saul etc.

Um bom ano cinematográfico a todos 🙂

 

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