Chegou o momento de relembrar aqueles que foram os filmes a mexer mais comigo, porque se teve uma coisa boa em 2016, foi o Cinema!
Foram tantas boas surpresas, e confirmações dentre os filmes que mais esperava, que vou dividir a lista em duas (e assim consigo pôr meus dois filmes favoritos em primeiro lugar :3 ):
Top 10 filmes de 2016, ainda não lançados comercialmente no Brasil, mas que de um jeito ou de outro pude assistir:
1. Toni Erdmann, de Maren Ade
Um pai tenta se reaproximar de sua filha, uma workaholic que trabalha como consultora de uma empresa de petróleo. Se a premissa parece um desses filmes da sessão da tarde que todos já cansamos de rever, não se engane. A diretora é a alemã Maren Ade e seu estilo único, lançando sombras de surrealismo a eventos de outro modo bem reais, nos faz enxergar os absurdos que ficam dormentes nas relações humanas. Passamos a conhecer esse pai Winfried, que aproveita cada situação para fazer palhaçadas, em sua constanste tentativa de se aproximar de sua filha, a séria Ines, que tenta com grandes dificuldades ter uma posição de respeito em seu trabalho, e as investidas cômicas de seu pai intrometendo-se em sua vida profissional não poderiam vir em pior hora. Com quase três horas de duração, o filme nunca parece se demorar demais, mas ao contrário estende-se naturalmente, dando-nos oportunidade de conhecer a fundo esses e outros personagens. E sim, no fundo esse filme é uma comédia, a mais engraçada do ano; a diretora aproveita seu estilo meio surreal para construir situações inesperadas umas atrás das outras, nunca perdendo o timing cômico, de piadas tanto corporais, quanto situacionais e verbais. É impressionante como um filme tão longo nunca perca seu rumo e nunca deixe de fazer rir (o cinema em que vi estava lotado e nunca parávamos de rir). E por baixo de todo absurdo os personagens vão se reavaliando, crescendo, percebendo-se de outras maneiras e o apego emocional por essas pessoas também cresce em nós, que as acompanhamos por tanto tempo. O final é agridoce da melhor maneira possível, seguido de um triunfo cinematográfico como nenhum outro visto esse ano.
2. O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues
Está para um filme esse ano superar a experiência imersiva que é esse O ornitólogo, um filme que se utiliza, tanto subversivamente como uma confirmação, da trajetória religiosa de Santo Antonio para ressignificá-la no mundo contemporâneo, na busca de identidade e aceitação próprias. Um filme cheio de um humor inesperado e perverso, e também que fala pelos sentidos, por alusões e metáforas. É um filme para se entrar simplesmente esperando se perder em uma jornada estranha.
3. Mistério na Costa Chanel (Ma Loute), de Bruno Dumont
Um olhar cômico na nobreza insensível e insensata assim como na justiça pateta, tudo por um viés bem cartunesco (em certo momento a personagem interpretada por Juliette Binoche, descendo uma ladeira, pula e, suspensa no ar por uns segundos, move com rapidez os pés sem conseguir se locomover, lembrando os desenhos animados que empregavam situações assim) recheado de comédia corporal e exageros que bem se adequam a essa narrativa tresloucada e biruta.
4. Midnight Special / Loving, de Jeff Nichols
Foi um bom ano para Jeff Nichols, lançando dois filmes, um no início do ano em Berlim, outro em Cannes, e se os dois são bem diferentes entre si, não são menos memoráveis. Midnight Special segue a tradição de filmes de ficção científica dos anos 80 na veia de Spielberg e John Carpenter, e trata de maneira linda e poética sobre deixar aqueles que amamos ir, assim como a inspiração do legado artístico na vida dos outros. Já Loving tem a difícil tarefa de simplesmente nos mostrar a história de duas pessoas que se amam, mas são impedidas de viverem juntos pelas leis antigas do estado onde viviam por serem de cores diferentes. É um filme que fala alto por silêncios, não recorrendo a truques baratos para chamar a atenção a si, e por essa restrição auto-imposta, Nichols demonstra pelas suas habilidades de direção que uma história pode ser sutil e ainda assim impactar.
5. Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea), de Kenneth Lonergan
Um filme tristíssimo sobre a impossibilidade de se curar de certos traumas que também calha de ser engraçadíssimo. Casey Affleck (em sua melhor atuação), junto com Lucas Hedges e Michelle Williams nos mostram personagens tão humanos que ora nos afeiçoamos a eles, ora como eles nos espantamos, mas nunca deixamos de compreendê-los, sentir por eles. Um dos filmes mais ricos em empatia desse ano.
6. A Criada (Ah-ga-ssi), de Park Chan-wook
Apenas o diretor de Oldboy conseguiria ser tão subversivo ao tratar dessa história dos desejos humanos. O enredo é tão cheio de curvas e revelações que explaná-las tirariam a graça de quem descobre tudo sozinho pela primeira vez. E é rica o bastante para em outras visitas ainda permitir novos olhares, enxergar novos detalhes. É um filme sobre desejo e dominação e como estes papéis se invertem, se ressignificam, e é maravilhoso ver o cuidado até em frases proferidas pelos personagens que são depois apropriadas por outros com outra intenção; é uma experiência única, cheia de cenas meticulosamente bem compostas e uma trilha envolvente. O melhor filme do diretor depois de Oldboy.
7. Uma Paixão Tranquila (A Quiet Passion), de Terence Davies
Uma linda biografia da poeta Emily Dickson que entende sua luta com o mundo e humaniza essa personagem intrigante que se sentia tão acossada pelo convívio com os outros assim como por sua doença física, que é impossível não simpatizarmos com ela. Completa o encanto a poesia da autora que é ouvida nos momentos certos a ditar o estado em que a história e os personagens se encontram.
8. A Bigger Splash, de Luca Guadagnino
Um filme cheio de energia, música, gritos, gestos, que vai aos poucos nos mostrando o mundo desses personagens abastados e amorais – e também como aos poderosos é fácil delegar a responsabilidade aos impotentes. Essa jornada envolvente fica completa com a presença de um Ralph Fiennes hilário e uma (sempre excelente) Tilda Swinton encarnando o papel de uma rock star à la Bowie que, sem surpresa, encaixa-se tão bem com a atriz.
9. High-Rise, de Ben Wheatley
Uma maravilha de edição fluida é esse filme, fazendo com que a história distópica de personagens que moram em um arranha-céu (onde os ricos ocupam andares superiores e os pobres, inferiores) seja vista com distanciamento frenético e sempre envolvente. É mais uma experiência sensorial do que uma história convencional, mas em que os elementos técnicos do filme se adequam à mensagem que quer passar.
10. A Mulher que se Foi (Ang Babaeng Humayo), de Lav Diaz
Os filmes do filipino Lav Diaz apostam na metragem super estendida para uma imersão em um espaço e um envolvimento realista com os personagens para sentirmos uma espécie de realidade sensorial que apenas o cinema é capaz. E assim, com quase quatro horas de duração acompanhamos uma mulher que busca vingança por um crime de que foi injustamente condenada. Essa premissa convencional, estendida da maneira que é traz um olhar bem humano e duro a essa e outros personagens. Uma fotografia em preto e branco de alto contraste cuidadosamente bem composta estão ali também para garantir um completo senso de maravilhamento nessa experiência cinematográfica.
Menções Honrosas: Always Shine; Certas Mulheres (Certain Women); Vida, Animada (Life, Animated); Na Vertical (Rester Vertical); Sala Verde (Green Room); Voyage of Time: Life’s Journey; Demon; Under the Shadow; The Eyes of my Mother; The Mermaid; Sunset Song; Cosmos.
Top 15 filmes de 2016 lançados comercialmente no Brasil, seja em circuito seja na Netflix:
1. Cavaleiro de Copas (Knight of Cups), de Terrence Malick
A alma afligida por saber que há uma plenitude a ser alcançada mas, perdida, não sabe encontrar o caminho que a levará lá. Terrence Malick cada vez mais, desde A Árvore da Vida, vem entregando-nos um material de difícil entrada, que ignora quaisquer convenções do que e como um filme deve se apresentar, aqui vai mais abstrato do que nunca, enxergando a história e os personagens ao seu redor com o olhar caraterístico do protagonista, vivido por Christian Bale, que não consegue passar além da noção de artificialidade das relações humanos, sem conseguir se conectar espiritualmente tampouco. Aliado ao colaborador de sempre, o cinematógrafo Emmanuel Lubezki (que embora excelente em todos os seus trabalhos, ganha mais destaque nos mais comercias, deixando de ser apreciado como deveria em seus esforços mais experimentais), Malick tece uma colagem frenética de imagens possibilitando novos significados em diferentes visualizações, cortes bruscos que acentuam a desconexão de indivíduo/mundo – e que não por isso o filme deixa de ser fluido e imersivo, contemplativo, auto-reflexivo-, uma trilha eclética e vasta de peças clássicas a rock, e aqui mais presente do que nunca está uma veia poético-literária que se aprofundam na mente do espectador. É uma jornada tortuosa, difícil, melancólica, mas que apresenta um vislumbre de esperança, sugerindo que embora a plenitude nunca possa ser atingida nessa terra, precisamos sempre recomeçar o caminho em direção a ela para usufruirmos o melhor que aqui nos é possível viver. É dessa eterna jornada da alma em busca à felicidade que o filme nos inspira a também realizar.
2. O Demônio de Neon (The Neon Demon), de Nicolas Winding Refn
Um dos filmes mais polarizantes do ano, ame ou odeie, se há uma coisa que é inegável é sua exuberância estética, desde os planos geometricamente bem compostos de cores super saturadas, à trilha eletrônica sempre pulsante, à maquiagem e ao camarim, tudo aqui nos coloca dentro dessa hipnotizante alegoria sobre a beleza no meio fashion. O diretor sabe que está transitando no meio do ridículo, e assim ele traça uma fina linha entre os diálogos que escapam direto do consciente coletivo, daquilo que todos pensam mas em ocasiões normais não falariam, e a aparente refinação do ambiente. Vários aspectos da beleza num mundo capitalista são tratados aqui, desde a protagonista sentindo-se quase que culpada por possuir naturalmente aquilo que tantas outras almejam, passando pela perda da ingenuidade, a todos os artifícios que se emprega para ser belo. Tudo é apresentado de forma bem abstrata e é fácil ver as belas imagens do filme como vazias, mas creio que qualquer um que internamente é levado, de uma forma ou outra, a preocupar-se com a própria perfeição irá enxergar ali algo com o que se identificar e entender.
3. Cemitério do Esplendor (Rak ti Khon Kaen), de Apichatpong Weerasethakul
Um filme lento e imersivo e visualmente lindo sobre as camadas do passado histórico que se vão se acumulando no presente. Será uma das melhores experiências fílmicas àqueles que, com paciência, apenas querem se deixar envolver totalmente por uma atmosfera nova.
4. Elle, de Paul Verhoeven
Completamente subversivo quanto a convenção de gêneros, um thiller de vingança, que é um drama familiar, pontuado da comédia mais ácida que não poupa padrões de moral e ética nenhuns… ao centro disso tudo está Isabelle Huppert, uma das mais (se não a mais) competentes atrizes atuantes que consegue sempre passar por qualquer problema que seja e ainda assim permanecer com a feição mais impassível, deixando ao espectador o encargo de ousar decifrá-la. Com essa, Huppert e o roteiro baseado em um romance francês mais a direção de Verhoeven acostumado a provocar entregam-nos um estudo de personagem complexo sobre dominação e as percepções distorcidas que temos dos gêneros, e que promete mudar a cada vez que decidirmos voltar ele…
5. As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes
O diretor do excelente Tabu retorna com essa apropriação do estilo solto de contar histórias das Mil e Uma Noites, e assim, com Xerazade como nossa narradora, acompanhamos, em três filmes (ou volumes), após um prólogo do primeiro ilustrando a inutilidade e impossibilidade de se contar uma história apenas por escapismo sem um comentário político (e vice-versa), várias histórias carregadas daquela qualidade ancestral que fazem as boas histórias fabulosas e ainda assim sempre conversando com nosso presente, com nossas relações éticas, morais, sociais e políticas, nem sempre de maneira direta e clara (ainda mais se levarmos em conta que os eventos foram inspirados por uma crise que houve em Portugal entre 2013 e 2014 gerando pobreza generalizada), mas isso pouco importa porque a capacidade do diretor de fazer-nos seduzir e encantar pelo feitiço de suas habilidades narrativas mantém-nos sempre embalados, podendo depois pensar sobre o que vimos. Uma característica extraordinária desses filmes é como eles permanecem com suas imagens suspensas por um tempo sem fim sem que percamos o interesse, mas ao contrário nos hipnotize, assim como ao ler ou ouvir histórias fabulosas criamos imagens mentais suspensas, imagens que ficam conosco, não nos abandonam. É uma magia narrativa como nenhuma outra essa que o português Miguel Gomes é capaz de conjurar.
6. A Bruxa, de Robert Eggers
O filme de terror mais aclamado desse ano, e que será um a ser lembrado nos anos vindouros, constrói tensão pela relação de paranoia e fanatismo religioso dos personagens, e talvez por isso não entre na cabeça de todos nem os incomode e assuste tanto quanto filmes mais comerciais do gênero, mas independentemente disso é inegável, quando se presta atenção, o trabalho do diretor em nos colocar em um ambiente crescentemente hostil e temeroso, qualidades em parte devido à fotografia realista e imersiva e sempre bem enquadrada, em parte pela trilha enervante de vozes dissonantes, em parte pelas excelentes atuações; e o resultado é um filme que entra no seu subconsciente caso você permita, e será difícil tirá-lo de lá, uma vez assimilado.
7. Boi Neon, de Gabriel Mascaro
A condição humana como animal que mal sabe estar encarcerado, podendo apenas sonhar com uma vida livre, em uma abordagem naturalista que realiza proezas enormes em situar-nos no mesmo ambiente de seus personagens quase ignorantes de si, ao ponto de que em uma cena de sexo prolongada tudo o que resta e se estende é a atmosfera que cerca os amantes, sendo eles mesmo pouco ou menos que os objetos inanimados que os cercam, tal o poder de conjurar uma ambientação do diretor. Se isso não é o mais perto de encanto que podemos experimentar vendo um filme, não sei mais o que é.
8. Aquarius, de Kleber Mendonça Filho
Um lindo filme regado de vida e suas vivências, que trata da importância da presença da memória, a preservação da empatia, e a resistência como arma de vida, assim como tantas outras coisas. Suficiente talvez seja dizer a força com que carrega o filme a atriz Sonia Braga, como a personagem mais amável dos últimos tempos.
9. American Honey, de Andrea Arnold
Um grupo de adolescentes percorre a América em busca de uma condição de vida livre, e para isso vendem revistas – ao que na verdade eles vendem a si mesmos, às mentiras que contam para conseguir dinheiro. É uma análise do que é o sonho americano para o mundo contemporâneo, cheia de metáforas no caminho, e por todo o tempo hipnotizante pela belíssima fotografia e um ritmo maravilhoso que embala com muita música e em aspecto documental a jornada desses jovens desamparados, sempre pondo-nos no aqui e agora, como se vivenciássemos junto com eles seus caminhos.
10. Os Oito Odiados (The Hateful Eight), de Quentin Tarantino
Tarantino voltou esse ano com mais um filme que traz sua marca de crueldades e subversão, trazendo-nos dessa vez um western que se passa a maioria do tempo em um armazém e lá estão vários personagens que as poucos vão nutrindo suspeitas uns dos outros rumo a um sangrento final. O que tem de especial aqui – fora a linda fotografia que consegue nos colocar dentro desse espaço confinado e ainda assim faz-nos ter uma boa noção de todo o espaço ali dentro (e quando nos é mostrado o exterior, ah! que lindas paisagens cobertas de neve!), a trilha sonora tensa e potente de Ennio Morricone – são as interações entre esses personagens, brutais e de tensão crescente, que prende a nossa atenção; e é como se víssemos ali dentro tudo de podre e corroído que se encerra na América. Outro destaque é o sempre bem-vindo caráter metalinguístico da obra que mais de ser um mero truque, serve às mensagens que o filme quer passar. Lindo e provocador, é o cinema de Tarantino em sua melhor forma.
11. O Que Está Por Vir (L’Avenir), de Mia Hansen-Løve
Através da direção sutil que faz todo o trabalho de deixar os personagens e a história fluir sem afetações estilísticas parecer ser coisa fácil, a diretora do também excelente “Adeus, Primeiro Amor” nos presenteia com uma outra performance de Isabelle Huppert que mostra o quão versátil a atriz é. Totalmente em tom com o material sutil do filme, Huppert nos apresenta sua personagem em um recorte em que várias mudanças ocorrem com as quais ela precisa lidar, assim como a constante presença do futuro cheio de ansiedades, incertezas… mas sempre com a cabeça erguida e esperança de que o que está por vir será um novo caminho que valha a pena desbravar.
12. A Chegada (Arrival), de Denis Villeneuve
O amor e a vivência que se abraça mesmo sabendo das dificuldades e perdas no percurso. Contado com o olhar particular da ficção científica e tendo uma excelente Amy Adams como protagonista, esse filme entende esse lado doído dentro do amor, e assim entrega uma experiência emocionante, que convida a ser olhada como novos olhos a cada visita.
13. Amor & Amizade (Love & Friendship), Whit Stillman
Um dos filmes mais agradáveis desse ano também é um de senso de humor cortante, cheio de ironia e tom satírico quanto ao seu material fonte, uma novela de Jane Austen, autora que sempre lançava um olhar cômico às convenções sociais; e assim é natural que o diretor seja satírico com a própria convenção de filmes de época, usando elementos técnicos para fazer uma leve zombaria, como nos textos que apresentam os personagens ou as palavras das cartas que aparecem na tela. Liderado por uma excelente Kate Beckinsale, esse é um dos filmes mais engraçados e adoráveis que você verá desse ano.
14. Um Cadáver Para Sobreviver (Swiss Army Man), de The Daniels
Esse filme tem um quê de esquisito e que é ainda mais especial por isso quando se percebe o tanto de verdade, de uma verdade dolorida, está nessa história que envolve um jovem tentando se reconectar com a sociedade e para isso se utiliza da companhia de um cadáver que aos poucos ganha vida e ensina ao protagonista a se aceitar como ele é. Ah, e o filme utiliza coisas nada ortodoxas como piadas de peido ou uma ereção como bússola como metáforas para essa aceitação própria e redescobrimento das relações humanas, e funciona! É um filme que falará mais forte com aqueles que tem um pouco de solidão guardada em si.
15. Sieranevada, de Cristi Puiu
O diretor romeno Cristi Puiu nos coloca dentro de um apartamento na maior parte do tempo onde acontece uma reunião de família para um ritual de comemoração da partida do patriarca; ali ficamos como que observadores privilegiados por poder ouvir conversar de detrás de portas, de vários ambientes ao mesmo tempo. A composição é super coreografada e ao mesmo tempo natural, então a câmera que fica sempre presa em um local, mas se movendo em seu eixo, às vezes persegue um personagem mas volta pro outro lado da tela quando percebe que um outro personagem está falando algo. É um filme cheio desses conflitos familiares que vemos em filmes de reunião familiar, com o acréscimo de que muitos ali são muito politizados e as conversas deles acabam trazendo a política pra dentro da família e a família como um símbolo maior de embates políticos, cada vez mais tortuosos e trazendo um crescente clima de dissidência no ambiente, mas que no final, por ser aqueles a família que têm, não podem deixar de sentirem-se gratos. O filme conta com um humor brilhante também, fez a sala em que vi rir alto em vários momentos, principalmente em um envolvendo um padre que demora a chegar. A longa metragem pode assustar, mas o clima quase sempre frenético de conversas fazem desse filme um dos mais recompensadores do ano.
Menções honrosas:
Mais Forte Que Bombas (Louder Than Bombs); Mogli: O Menino Lobo (The Jungle Book); Carol; O Quarto de Jack (Room); Meu Amigo, o Dragão(Pete’s Dragon); O Convite (The Invitation); O Regresso (The Revenant); Deadpool; Ave, César! (Hail, Caesar!); Rua Cloverfield, 10 (10 Cloverfield Lane); A 13ª Emenda (The 13th); O Homem nas Trevas (Don’t Breathe); Julieta; Into the Inferno; A Ovelha Negra (Hrútar); Fique Comigo (Asphalte); Zootopia, Boa Noite Mamãe (Ich seh, Ich seh), Tudo Vai Ficar Bem (Every Thing Will Be Fine).
Os Esquecidos:
muitos filmes acabei deixando pra ver amanhã, que acabou nunca vindo e o resultado é que ainda não assisti: Jovens, Loucos e Mais Rebeldes (Everybody Wants Some!!), O filho de Saul, Spotlight, Aferim!, Rogue One, Animais Noturnos (esse estreou no finzinho de dezembro, e não deu pra ver), Animais Fantásticos e onde Habitam, Meu Rei, Cinco Graças, Nossa Irmã Mais Nova etc.
outros estão ausentes dessa lista por já constarem na minha do ano passado, caso de A Assassina, Anomalisa, Brooklyn, The Lobster e O Fim da Turnê.
Foi isso o que deu para fazer em matéria de cinema esse ano que passou. Espero que 2017 nos traga ainda mais bom filmes, e é com esse desejo que eu encerro!